Com a aproximação do Congresso do PSD, é oportuno fazer algumas reflexões sobre as possibilidades de sucesso do seu actual líder.
Como Santana Lopes, Marques Mendes foi traído por uma espécie de aceleração da História verificada com a deserção de Durão Barroso.
Esta aceleração criou um vácuo e um vórtice no PSD que, de forma abrupta, não deixou condições de exercício do poder a médio prazo.
Com a derrota das eleições legislativas e a maioria absoluta do PS, todos os candidatos do PSD que podiam construir uma alternativa credível a Sócrates, resguardaram-se para fugir à regra, até agora inelutável, segundo a qual perder as eleições acarreta a substituição do líder.
Marques Mendes que até então tinha sido o único a demonstrar verdadeiro interesse em liderar o PSD em alternativa a Santana Lopes, viu o seu caminho aberto para a liderança.
No entanto, o PSD entregou-lhe o poder com desconfiança na medida em que a aparente vantagem com que partia para o Congresso, foi-se esboroando até ficar com uma diferença mínima para Luís Filipe Menezes e Aguiar Branco (este último na lista para o Conselho Nacional).
Entretanto, a liderança de Marques Mendes também não tem corrido bem por culpa exclusiva dos seus erros.
O primeiro erro consistiu no desenvolvimento de uma estratégia de consolidação do poder dentro do partido que tinha como pressuposto o afastamento de pessoas tidas como indivíduos sem carácter.
Durante os meses que se seguiram ao Congresso foi frequente ouvir o líder e outros dirigentes nacionais atacarem pessoalmente anteriores responsáveis do partido, com a invocação da necessidade de moralizar a vida política com o exemplo vindo do PSD.
Esta tarefa, levada a cabo com meticuloso cuidado, não deixou de parecer injusta e maquiavélica a grande parte dos militantes de peso, tanto mais por ter dois pesos e duas medidas. Na verdade, ninguém conseguia perceber se a questão do carácter estava nos problemas com a justiça que alguns militantes tinham ou se em outras causas.
Muitos não perceberam porque se não apoiou Valentim Loureiro e Isaltino Morais e se apoiou Isabel Damasceno, como ninguém percebeu porque se não apoiou Santana Lopes. Esta falta de clareza política quanto ao tratamento dado aos militantes, permitiu concluir que o líder se pautava por mesquinhas vinganças pessoais e não por critérios de natureza política.
Chegou a ser ridículo que, para mostrar a diferença de tratamento da autarca de Leiria, se tenha invocado o afastamento dos militantes de Gaia e Oeiras com o fundamento de os factos de que eram acusados se aterem à sua actividade como autarcas. Como se a Dra. Isabel Damasceno fosse uma simples dona de casa!!!
O segundo erro cometido por Marques Mendes residiu na escolha de Carmona Rodrigues para candidato à Câmara Municipal de Lisboa.
Com esta escolha o PSD perdeu a Câmara Municipal de Lisboa por três razões.
A primeira razão residiu na predominância de independentes na lista à Câmara Municipal de Lisboa. A segunda razão reside no facto de matérias fundamentais para a cidade não estarem nas mãos de vereadores do próprio PSD (finanças e urbanismo). A terceira razão tem a ver com o facto de Carmona Rodrigues ter decidido fazer uma gestão de geometria variável (que se apoia em Fontão de Carvalho e em Gabriela Seara), que não prescinde do diálogo com outros partidos, e que poderá a prazo, consoante as contradições se desenvolverem, evoluir para uma candidatura de reeleição com o apoio do PS.
Um terceiro erro que resulta da incapacidade de liderança e prende-se com as recentes demissões de Pedro Passos Coelho e Vasco Rato.
As saídas verificadas da Comissão Política Nacional demonstram que o líder do PSD não tem argumentos para suster os seus próprios defensores.
Na verdade ocorre perguntar: Se o líder do PSD não consegue evitar dissidências entre os seus, como poderá algum dia ter mão na condução dos destinos do País?
O Congresso que se avizinha vai ser, deste modo, o Congresso mais triste da história do PSD. Ouvir-se-ão os habituais discursos de elogio, o líder vai ser consagrado e cada palmada nas costas servirá, não de alento a quem tem uma tarefa difícil, mas de impulso na caminhada até ao enterro nas próximas legislativas.
Post Scriptum – a) Os que criticam a oposição que Marques Mendes tem feito ao PS não têm razão – O P.S. tem governado para e com o apoio do centro direita; b) Foi caricato ver o líder do PSD falar no Congresso do Partido Popular. Ninguém sabe (ele incluído) se falou português ou espanhol.