O Dilema para Ana Gomes

É interessante e de mérito a "cruzada" da eurodeputada Ana Gomes sobre a mais que evidente cumplicidade dos Governos PSD e PS no transporte de pessoas raptadas pelos serviços dos EUA (CIA e afins)para os campos de concentração dos EUA em Guantanamo e Diego Garcia e a subsequente tortura para extorquir informações sem culpa formada e sem direito a qualquer assistencia juridica.
A chamada "rendition", prática bem exposta no filme com o mesmo nome, tem a virtude de denunciar aquilo que todos já há muito sabem desde os tempos da cimeira açoriana de "Durão Barroso" (onde este se limitou a servir cafés a Bush, Blair e Aznar) pré invasão do Iraque.
O problema dessa "cruzada" pela verdade é que a mesma enferma de insanável contradição, a partir do momento em que a Srª declara que o Governo PS e o seu partido pretendem calá-la por todos os meios tanto com avisos de retirada do seu lugar da próxima lista eleitoral quanto por quasi ameaças de ostracismo ou pior...
Das palavras da Srª tira-se a conclusão que ela própria já tirou, de que o Governo do PS não está minimamente interessado em colaborar, seja em confessar as suas responsabilidades naqueles factos,seja em ajudar na descoberta de toda a verdade a respeito.
Ora, se assim é, como a Ana Gomes declara, então como resolver a questão da sua coerencia e da sua dignidade?
Tratando-se de um assunto ( rapto de pessoas, tortura, ausencia do direito) que se traduz num dos crimes mais ignóbeis e hediondos e que mais repugna ao ser humano civilizado, como pode Ana Gomes vir dizer que se mantem no PS e no apoio ao seu governo afirmando que este em muitas àreas da gestão do país tem agido bem e positivamente?
Ana Gomes ao dizer isto é como aquela mulher que descobre que o marido se envolve sexualmente com crianças ( crime igualmente hediondo), que o denuncia ao MPublico, mas que continua a dormir com ele na mesma cama e quando perguntada pela vizinha como pode continuar a viver com ele, candidamente responde:
"Continuo com ele porque que fora aquelas "coisas", ele até é muito bom a cozinhar e a passar a ferro e trata-me muito bem..."
e adesso que, Ana?